domingo, 15 de abril de 2018

[CONTO] Capivara Negra - Beguins



Arte: NapoliThanos
 Na sala do trono da Basílica, três dos Pretores aguardavam. Um era o felino trabalhador. Outro, com ar juvenil, já fora velho. O terceiro, é aquele que trazia as mazelas.
Celso era guiado lá por um novo adendo aos basílicos, um alienígena de porte poderoso, roupas douradas e pele com três cores diferentes... O Vermelho da Paixão, o Branco da paz, e o Marrom do Chocolate.

- Não tem um coffe Break ou algo assim? - pergunta o Símio. - Cruzei o Amazonas às quatro da manhã e entrei na fenda do Lundgreen nem proteção. Um café ou um todinho cairia bem agora.

- Você sumiu por semanas, Celso. - Repreende o felino. - Pensamos que você foi uma das vítimas...

- Vítimas de quê? - pergunta o primata. Estava longe ha muito tempo.

- Quando se afiliou à Basílica, você adquiriu obrigações.- O Desgraça inferiu. - Seu desempenho dos Jogos ... Simplesmente sair sozinho em território hostil... Tudo isso nos faz questionar sua dedicação...

- É minha natureza... - Celso encontra um envelope de chicletes que havia esquecido nos bolsos de seu sobretudo marrom. Teria de ser seu café da Manhã. -Quanto a meu paradeiro... Eu estava em Beagá.

- C... Como?!? - o ex-velho chega a se levantar.

- Relaxa... Eu sou espião... - Celso começa a mascar um pedaço da goma. - Eles jamais me achariam. E eles nos agrediram primeiro. Fui lá ver se podia trazer informações, manipular eleições, construir um muro...

- Não deveria tomar essas iniciativas, macaco. - Business não estava exaltado como os outros dois. Talvez planejasse algo assim oficial da Basílica, ou pelo menos entendesse toda a mágoa da última vez que as duas potências se chocaram. - Mas se virou a noite voltando, deve trazer notícias importantes da capital mineira à beira do mar.

Celso põe na boca outra goma para reforçar o gosto da primeira, e pondera como ia contar a história.

- Devo dizer... - Começa a narrativa. - Por algum tempo as palavras da Prefeita me incomodaram. Uma capital povoada só por nossas vítimas... Mas o fato é que a natureza é sábia. Presas e predadores vivem em equilíbrio. Muitos dos bundas-sujas subiram na vida ao abandonar o ambiente da lamentabilidade... Agora, sem a gente para mantê-los na linha, Beagá "virou Brasil".

"O mal, a corrupção e a burrice toma conta da cidade. Roubos, fraudes, fome, tráfico, e até votam no Aécio. Eu aluguei um quarto-e-sala num beco e saia à noite para constatar tudo isso o que acontecia por mim mesmo. Muanha conclusão: A cidade não poderia prosperar em ambiente tão tóxico.

Mas quando estava perdendo esperanças, comecei a ouvir boatos entre os miseráveis. Boatos sobre uma sombra de justiça à noite... Um enorme roedor sombrio que ia onde a nequícia abunda e os bundas-sujas sentem a pungência da malevolência..."

- Um ... Roedor?!? - interrompe o gato, com olhos arregalados. - Tipo ... Um rato gigante?

- ..Mais para Hydrochoerinae. - comenta Celso.

- Uma ... Capivara. - Desgraça traduz. - Não fique tão interessado, Busi...

- Dá para deixar o MACACO contar a HISTÓRIA?- reclama o Ex.

Celso cospe o chiclete. Guarda o último pedaço da embalagem para mais tarde. Precisaria de toda sua vocalidade para focalizar no assunto.

"Mesmo não acreditando nos boatos, decidi investigar. Já estava lá mesmo... Foi quando soube que um grande carregamento de piranhas do Rio São Francisco se daria no porto. Decidi investigar. Cheguei a tempo para ver quem encomendava o produto, os nerds dentuços que juntaram as economias de uma vida inteira de programador para comer uma pepeca. Deviam ter, cada qual, quinze... Talvez até vinte Golpinhos.

'Cadê as piranhas?' um mais animado falou. Os estivadores disseram 'O Dinheiro primeiro'. Eles pagaram. Olharam ao redor, temendo que a polícia ou seus pais estivessem por perto. Eu sou um mestre espião, jamais me veriam. Enfim, eles entregaram. Os Estivadores começaram a ir embora.

'EI! Nós tínhamos um trato!' - reclamou outro nerd. 'Esse dinheiro não dá para concluir a transação', retrucou o estivador, mas batendo o pé de forma intimidante. Um dos Nerds, acredito eu desiludido, disse: 'então nos devolve nosso dinheiro...' Os estivadores gargalharam. Um deles empurrou sem cerimônia o frágil nerd, que caiu no chão como meia suja.

Creio que  foi a gota d'água.

Uma pilha de caixas de madeira que tinha próxima, subitamente, despencou. Dois dos estivadores foram soterrados, e o resto foi forçado a se espalhar. Eu mal vi os movimentos, muito menos os vilões... Mas, no centro dos bandidos, surgiu o vulto negro.

Ele tinha um porte poderoso, coberto em um traje tático negro tendendo à púrpura. A ponta de seus dedos terminavam em garras espessas. Sua cabeça... Não era humana! Projetava um largo focinho que podia ser envolvido por duas mãos.

Os vilões sabiam quem era. Eles ficaram paralisados por seis... Sete segundos em terror. Mas eventualmente, talvez acreditando na vantagem dos números, eles atacaram o justiceiro.

Mesmo com o tamanho de um lutador da MMA, a capivara se moveu com graça e velocidade. Esquivou com facilidade as duas primeiras pauladas que lançaram nele. A terceira, ele aparou pelo pulso do bandido e, com a pressão de uma mão, o forçou a largar a arma.

Dois bandidos atacaram o herói por trás, mas ambos foram atingidos por um único chute circular meio-coice... E voaram até os containers partidos.

Daí então a Capivara Negra tomou a iniciativa. Saltava no ar por distâncias dignas de um slow-motion do Snyder, aterrissando no rosto de um bandido. De lá, socos voavam e cada um atingia um malfeitor, tirando-o de combate com facilidade.

O líder dos bandidos encontrou um gancho de guindaste pendurado numa corrente de ferro. Enquanto seus mínions eram derrubados pelo herói, ele apanhou o petardo, esticou sua corrente, e mirou. Quando o Capivara parou de se mexer, ele lançou em badalo a traiçoeira peça contra o herói.

O gancho de ferro balançou em sua corrente, em trajetória de arco, mas parou no ar, a centímetros do robusto roedor, e ficou parado no ar num ângulo impossível.

- Telecinésia? Magnetismo? Campo de força? - Arrisca o Ex-cara.

- Ou então ele tem o poder que faz dos heróis lendas absolutas... – fala Desgraça, lembrando-se daqueles que sobrevivem incólumes às intempéries que ele lançava no mundo.-O Poder do Protagonismo.

- Se eu puder terminar... – Celso recupera a palavra.

“Enfim, todos os malfeitores estavam caídos no chão. O chefe dos estivadores estava agora pendurado no gancho do guindaste. O Capivara Negra aproxima-se do bandido inconsciente, pega de volta o dinheiro dos Nerds, e joga o maço de notas de volta a eles, dizendo com uma voz grave e imponente:

- Tem promoção no Stream. Esquece esse papo de puta paga.

Palavras mais sábias que estas jamais foram ditas.

O herói se preparava para deixar o lugar, mas do nada, parou. Ele farejou o ar, encarou cada beco escuro do porto, detendo seu olhar enfim no beco que eu estava.

‘Impossível!’ – eu pensei. Como ele poderia me ver? Um espião envolto nas trevas? Mas ele me viu, e correu na direção oposta.

Eu estava envolvido demais na aventura para esquecer. Abandonei meu esconderijo e persegui o Vingador Carpincho.  Eu saltava nos telhados, pendurava nos postes e voava pelas ruas, e ainda assim, mal conseguia acompanhar o vigilante. E eu pensei que esses merdas eram noturnas.

Enfim, como eventualmente aconteceria, ele me despistou. Mergulhou num igarapé e desapareceu. Com isso, eu voltei imediatamente à Basílica para informar minha descoberta.”

- Igarapé? – O Gato de Negócios estranha. – Tem igarapés em BH?!?

- Agora tem MAR em BH! – observa Desgraça. – Nossas aulas de geografia estão defasadas.

- Esta... Capivara Negra... – pondera o Ex-cara. – Seria ele aliado ou inimigo? Um salvador ou um perpetrador de outra espécie de vilania?

- Napô – Desgraça chama a atenção do alienígena tricolor. – Vá com Celso e faça um retrato falado desse Comedor de capim combatente do crime.

- Depois do café! – resmunga Celso, sendo escoltado pelo abrutalhado alienígena, que já tinha lápis e papel à mão.

O trio de Basílicos aguardou estarem mesmo sozinhos.

- Vocês estão pensando o mesmo que eu? – fala o Gato.

- Se alguma criatura assim existe... - Desgraça coça o queixo. – Talvez tenha alguma chance...

- Muitos Lamentáveis perderam sua vida... – Ex-cara fala com pesar. – Talvez o Capivara Negra seja a solução para enfrentar... A Árvore!


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