terça-feira, 29 de setembro de 2015

Corto e os 40,5 motivos

DISCLAIMER: Esta não é a opinião dos postadores deste blog. Nem de qualquer um que não tenha fantasias homoafetivas pelo diretor Christopher Nolam. Trata-se de um salvaguarda de um dos momentos mais absurdos do blog Melhores do Mundo que foi perdido em seu pula-pula de provedores, para a posteridade.

Pena que não fiz isso com os comentários originais ou com a Comunidade do Hulk no Orkut.

Texto LPC (Longo Para Carajo). Leia por sua conta e risco.

 

40,5 Momentos Marcantes de O Cavaleiro das Trevas Ressurge

  Agora que o Change fez a lista das forçadas de barra, vamos rever os grandes momentos do último longa metragem de Christopher Nolan com o Batman.

Atenção: Isso não é um Top nem se propõe a ser uma análise semiótica, até porque teria que se falar da trilogia inteira e não só deste filme. A idéia é fazer algo diferente da grande maioria das muitas análises positivas e relembrar em ordem cronológica os grandes momentos de um grande filme que definitivamente tornou Batman, além de um dos grandes heróis dos quadrinhos, também em um dos grandes heróis do cinema.


Prólogo
  Nada me tira da cabeça que após ouvir algumas pessoas reclamando da cena do resgate de Lau em O Cavaleiro das Trevas fez Nolan decidir não só repetir aquilo como também reutilizar a idéia em grande escala com o resgate do Dr. Pavel. O resultado é uma obra de arte feita pelos dublês (afinal eles também são artistas) sem uso de CGI – não é à toa que Sylvester Stallone disse que Nolan pode ser a esperança dos filmes de ação quando viu A Origem. Além disso representa uma excelente apresentação do personagem Bane aonde mais uma vez Nolan reproduz uma idéia de TDK – a apresentação do Coringa no roubo ao banco – em larga escala.
Dica: Evite a versão dublada onde The Fire Rises – traduzido como “Ergue-se o Fogo” no livro do Charles Dickens – virou “Tá Pegando Fogo!”



Um Outro Milionário Excêntrico
 
  Antes de pensar em fazer filmes do Batman, Christopher Nolan tinha o projeto de uma biografia sobre o magnata Howard Hughes. Por Martin Scorcese estar trabalhando em O Aviador, a Warner lhe ofereceu contar a história de um “outro milionário excêntrico”. O diretor faz uma homenagem ao seu filme nunca realizado no início de TDKR, quando o fato de Bruce Wayne não aparecer em público a anos e se criarem lendas bizarras sobre ele nos remete em detalhes diretamente ao período do exílio de Hughes. De quebra, uma soberba apresentação da personagem Selina Kyle. Daí em diante todas as suas cenas com Wayne seriam fundamentais na trama.



“Eu preferia que você nunca tivesse voltado”
  Ao investigar o roubo da noite anterior (e descobrir que o apelido da ladra é A Gata), Bruce ouve um desabafo sincero de Alfred quando este fica indignado pelo fato do patrão não ter superado a morte de Rachel em O Cavaleiro das Trevas. Numa referência ao período da viagem pelo mundo de Bruce em Batman Begins, o herói desconcertado escuta do homem que o criou que preferia que ele nunca tivesse virado Batman e até mesmo nunca mais tê-lo visto na vida desde que soubesse que estava feliz em algum lugar com uma família… talvez num Café em Florença. Como disse o Luis Carlos Merten “essa cena é como eu imagino que o Cinema deva ser” e eu concordo. O que Alfred falou doeu mais que a joelhada do Bane.



Selina no Restaurante
  Aqui Anne Hatthaway não deixa qualquer dúvida: Ela é a melhor presença feminina em toda a trilogia. Todas as nuances da Mulher-Gato dos quadrinhos podem ser vistas nessa sequência do encontro de Selina com o capanga de Daggett, desde a esperteza e o sangue-frio até o instinto de sobrevivência e a dissimulação, sem deixar contudo de manter uma consciência.



Gordon Encontra Bane
  Na sequência do tiroteiro no restaurante Gordon acaba capturado e levado a presença do misterioso Bane no submundo – um trabalho espetacular de direção de Nolan que transforma o baixinho Tom Hardy num gigante – onde o comissário encontra quase que uma outra cidade debaixo da velha Gotham. Referência explícita ao Metrópolis de Fritz Lang.



A Máscara de um Órfão
  John Blake, policial que nunca se conformou com o sumiço de Batman na noite em que Harvey Dent morreu e iniciou sua lenda, lembra-se do dia em que conheceu Bruce Wayne a muitos anos e decide bater na casa do bilionário e jogar um verde para conseguir ajuda para Gordon. Uma cena arriscada que se tornou uma das melhores do longa por uma extrema autenticidade de roteiro e interpretações. Enquanto Blake explica o vínculo que compartilha com Bruce e esse apenas olha através da janela relembrando velhas cicatrizes, entendemos porque Blake, um estranho, demonstra mais compreensão do estado do protagonista do que Alfred, que o criou. Ao contrário do velho mordomo, o policial sabe que Bruce pode ser um dos homens mais bem treinados do mundo, que pula de prédios usando sofisticados equipamentos de milhões de dólares e sai com modelos estonteantes… mas mesmo assim não consegue ser feliz.



Lucius e The Bat
  Todas as cenas em que Lucius Fox mostra os equipamentos do Batman a Bruce são muito legais no melhor estilo Q e 007, mas essa tem um gostinho especial por fazer referência ao primeiro encontro dos personagens em BB quando Lucius mostra a nave The Bat e se antecipa a uma hipotética pergunta: “E sim, Sr. Wayne. Tem na cor preta.”



Visita a Gordon no Hospital
  Após uma consulta em que descobre que ser o Batman arrebentou seu corpo da cabeça aos pés e fez com que não tivesse mais cartilagem no joelho – o que significa que ele pode andar sim, mas os ossos do cara batem a ponto dele sentir uma dor terrível – Bruce não se importa de pular vários andares pela janela para falar com Gordon, onde fica claro que a “vitória” através de uma mentira cobrou um preço muito alto aos dois.



Bruce e Selina no Baile de Máscaras
  Uma das melhores cenas do filme. Desde Wayne, sem máscara (será mesmo?) num baile de máscaras, sacaneando os paparazzi e o primeiro contato com a milionária filantrópica Miranda/Talia até Bruce e Selina dançando e discutindo as máscaras que ambos usam pra sobreviver numa cidade e num mundo marcado pela injustiça social, enquanto os ricos de Gotham desfrutam de uma festa hedonista ao seu redor. Uma forma bastante inteligente de Nolan mostrar como a Lei Dent ter acabado com o crime organizado NÃO salvou Gotham. E, apesar do milionário conseguir pegar de volta o colar que Joe Chill tentara roubar anos antes, a cara de Christian Bale quando o (profético) guardador diz: “Sua mulher levou seu carro” é impagável.



O Ataque a Bolsa de Valores
  Bane mais uma vez mostra a que veio invadindo o coração do capitalismo norte-americano – a cena foi filmada em Wall Street - se impondo com extrema violência e com direito a uma fuga espetacular de moto. Como Alfred observa mais tarde ao ver a mesma cena de Bane em ação “Eu vejo o poder da crença. A Liga das Sombras renascendo.”




The Dark Knight Returns
  Momento extremamente climático quando as luzes vão se apagando e o Cavaleiro das Trevas retorna de seu autoexílio perseguindo a Liga das Sombras, com direito a um rapidíssimo primeiro encontro de Batman e Bane na rua e TODA a polícia de Gotham ignorando os mercenários para ir atrás do “canalha que matou Harvey Dent.” A hora que Nolan filma essa perseguição de cima abrangendo todos os veículos forma um quadro muito legal. Destaque para o Batman surpreendendo Foley e seus homens com o The Bat.



Batman e Mulher-Gato no Telhado
  Aqui ficamos sabendo do ardente desejo da Mulher-Gato de recomeçar uma nova vida tentando extrair de Daggett o Programa Ficha Limpa, quando Bane e companhia aparecem e Batman vem em seu socorro… pra terminar provando do próprio remédio e sendo deixado falando sozinho depois. Em dado momento em que o Morcego impede a Gata de atirar em um bandido, ele diz “Nós não agimos assim.”



Alfred Conta a Verdade
Uma das tramas mais marcantes de O Cavaleiro das Trevas foi a carta que Rachel deixou a Bruce explicando que quebraria a promessa de esperá-lo feita em Batman Begins e se casaria com Harvey Dent. Alfred queimou a carta para poupar Bruce da dor, mas agora, ao enxergar na volta do Batman a expressão de um desejo suicida de Bruce, ele decide deixar “a verdade ter seu dia”. Nolan tira toda a música ambiente confiando plenamente na química entre Michael Caine e Christian Bale. Revendo a cena, que é mais do que tudo um rompimento emocional entre pai e filho, dá pra notar que Bruce vira de costas e vai embora pra que Alfred não o veja chorar.



“O senhor está falido Sr. Wayne”
  O plano principal de Daggett quando enviou Selina atrás de Bruce vem a tona tarde demais para ser impedido. Numa versão em larga escala da farsa de Clifford Irving, Daggett usou as digitais de Wayne para a fraude que Bane e a Liga empreenderam na Bolsa de Valores e assim arruinou as Empresas da Família de Bruce. Toda essa armação era de fato um arenque vermelho de Nolan, um despiste, para mostrar como Lucius foi induzido a convencer Bruce de cometer o pior erro de sua vida.



Bruce e Lucius Mostram o Reator a Miranda
  Essa não é uma grande cena – apesar do Lucius mostrando a entrada da base secreta que Alfred e Bruce usaram em TDK ter um efeito legal sem vestígio de CGI – mas é o momento chave da trama. Com medo de que Daggett ponha as mãos no reator de energia limpa que poderia ser transformado numa bomba atômica, Bruce entrega a localização dele e o controle das Empresas Wayne a Miranda/Talia, coisa que ela planejara desde o começo. Claro que o público ainda não sabe nada disso, mas quando eles citam o Dr. Pavel a gente sente que algo vai dar muito errado.



Bruce e Selina no Apartamento
  Todas as cenas entre Selina e Bruce são excelentes, mas essa é a minha favorita pela forma totalmente despachada como os dois se tratam. Após ser expulso da reunião e conversar com Blake, o milionário vai ao apartamento da ladra para pedir que ela leve seu “amigo poderoso” até onde Bane e a Liga se escondem nos esgotos. No fim, o diálogo mais engraçado do longa
“Sr. Wayne… lamento que tenha perdido sua fortuna.”
“Lamenta nada.”




Bane Mata Daggett
  Até então quem não sabia nada da trama imaginava que Daggett contratou Bane, um mercenário expulso da Liga das Sombras, para roubar a fortuna de Bruce enquanto financiava as estranhas escavações dele nos subterrâneos de Gotham. Aqui Bane, com um simples gesto de pousar a mão no ombro do milionário, mostra quem estava no controle. Algumas pessoas reclamaram de Daggett dizendo que Bane era “todo mal”, mas o que eu acho realmente importante é ver o mercenário retrucar “Eu sou o mal necessário”, comprovando a tradição de ambiguidade de todos os grandes vilões da trilogia.



“Cortaram a minha luz”
  Apesar da ótima piada, o mais importante na cena é a sequência de fatos. Miranda/Talia segundo um amigo meu que estuda cinema usa o mesmo tipo de roupa da Rachel durante grande parte do filme. Lembrando que a falecida personagem era a única mulher da trilogia que conheceu Bruce na infância, no período anterior a morte de seus pais. Aqui, após ver a foto de Thomas e Martha, Miranda/Talia pega a foto de Rachel e pergunta “Quem é ela?” e após um silêncio “Cadê o Alfred?” e Bruce, olhando pro retrato diz “Ele foi embora… e levou tudo.” Só aí ela o beija e o leva pra cama.



Partido ao Meio de Corpo e Alma
 
  Após adentrarem os esgotos enfrentando os homens da Liga das Sombras numa cena sensacional, a Mulher-Gato trai o Batman com medo de ser morta e o entrega a Bane. A forma como Nolan filmou Bane no final de um estreito corredor sem saída para o Batman deixa claro para o diretor que aquele é o fim de um caminho que o Cavaleiro das Trevas começou a traçar na noite em que Harvey Dent morreu. Mais uma vez sem música de fundo a cena impressiona pela violência seca e crua e é também o melhor momento do trabalho vocal de Tom Hardy “As trevas traíram você porque elas pertencem a mim.” O único instante em que Bane quase perde o controle da situação é quando Batman menciona o fato dele ter sido expulso da Liga. A forma como Nolan encerra essa sequência fantástica com o herói quebrado vendo seu arsenal parando nas mãos dos inimigos não poderia simplesmente ser com a joelhada icônica dos quadrinhos. O cineasta cria seu próprio quadro icônico com uma imagem ainda mais forte: a máscara do Batman partida ao meio.



Blake Prende Selina
  A tentativa de fuga da Selina (a la Audrey Hepburn) de Gotham antes da “tempestade” chegar e sendo detida por Blake também foi surpreendente e muito bem editada… parecendo que de um jeito ou de outro o destino da Gata arrependida continua ligado ao do Batman, que antes Selina não sabia que era Bruce Wayne, o milionário que ela julgava egoísta.



O Herói no Fundo do Poço e a Gata Dentro da Jaula
 
  Nunca no gênero super-herói um personagem chegou tão fundo no fundo do poço… pelo menos não literalmente. Mas Nolan não tem o menor remorso em fazer isso quando Bane prende Bruce na prisão onde passou anos na sua vida sonhando em escapar por uma saída que ninguém conseguia alcançar… e onde aprendeu uma valiosa lição: a maior crueldade com que se pode torturar alguém é dar-lhe esperança. É isso o que ele fará com Bruce. É isso o que ele fará com Gotham. E, pra prevenir, o mercenário paga os homens da prisão para impedir o herói de se suicidar enquanto assiste a única coisa que restou de sua vida e sua infância agonizar até a morte: Gotham City. O fato da esperança virar uma arma de tortura pra mim já faz deste o mais ambíguo do três filmes que o Nolan fez com Batman.
“Você é torturador?”
“Sou. Mas não do seu corpo. Da sua alma.”

Mais uma vez provando a forte ligação que existe entre os personagens Bruce e Selina no universo imaginado por Nolan, a ladra também vira prisioneira, sendo encarcerada em Blackgate com homens – cortesia do fascismo da Lei Dent – e chega arrebentando na prisão.



Bane na Reunião das Empresas Wayne
 
  O alarme do “Agorasimdeumerda” toca com toda força aqui, basta ver as expressões de espanto de Morgan Freeman e dissimulação de Marion Cottilard. Enquanto Ra’s Al Ghul e o Coringa invadiram as festas de Bruce Wayne em Batman Begins e O Cavaleiro das Trevas, o Bane simplesmente ESTÁ LÁ, no meio da reunião das Empresas Wayne, cenário que sempre passava a impressão nos outros filmes que uma ameaça desse porte não poderia alcançar. Talvez o impacto disso sirva pra ninguém notar que Talia está no total domínio da situação, manipulando mais uma vez Lucius para colaborar com Bane e forçar o Dr. Pavel a transformar o reator numa bomba relógio atômica.



A Explosão no Estádio
É marcante o sarcasmo do Bane elogiando a voz do menino que canta o hino nacional norte-americano segundos antes de mandar tudo pelos ares. Visualmente é uma das cenas mais impressionantes e criativas de destruição que já vi em um filme. E o tal do Ward fez o maior touchdown de todos os tempos! Tudo para chamar a atenção das pessoas e explicar que um cidadão tem o controle do detonador da bomba atômica que manterá Gotham refém e que ninguém pode entrar ou sair da cidade. Também é sinistro quando Nolan afasta a câmera e você ouve o pescoço do Dr. Pavel quebrando, o único homem que poderia deter  a bomba.



A Queda da Bastilha
O segundo grande passo da vingança da Liga das Sombras começa com a verdade virando uma arma também (eu falei que esse é o filme mais ambíguo da franquia) onde Bane “quebra” Gordon, lendo o discurso onde o Comissário conta como Harvey Dent virou o assassino psicopata Duas Caras e Batman assumiu a culpa por seus crimes, forçando a criação da lei de mesmo nome que põe qualquer criminoso na cadeia sem direito a condicional. O melhor momento de Gary Oldman no filme (aliás, o momento mais Gary Oldman do personagem em toda a trilogia) “Eu espero que quando chegar a hora, você tenha um amigo como eu tive pra sujar as mãos por você” e a ratificação de John Blake como o farol de moral de todos os personagens “Suas mãos parecem bem sujas pra mim, Comissário”, nunca completamente a favor de nenhum dos lados. Destaque pro momento em que Bane diz que Gotham veria um novo dia enquanto Nolan dá um close na bomba relógio.


Um Conto de Duas Gotham Cities
 
  Apesar de continuarmos vendo ecos da obra de Fritz Lang – o tribunal dos criminosos de M – O Vampiro de Dusseldorf e a falsa revolução da Maria Robô de Metrópolis – o roteirista Jonathan Nolan já havia dito que a principal fonte de inspiração de TDKR é Um Conto de Duas Cidades de Dickens: Bane é Robespierre, A Queda de Blackgate é A Queda da Bastilha, A Revolução Social é a Revolução Francesa, os Tribunais de Exceção são O Reinado do Terror. O filósofo Slavoj Zizek escreveu um ensaio sobre o filme, A Ditadura do Proletariado em Gotham City, onde ele ressalta esse aspecto conservador de Nolan. Apesar de não me lembrar da última vez que um filme de super-herói recebeu atenção dessa parte da mídia, Zizek se baseia em alguns equívocos:
Bruce Wayne nunca foi traficante de armas, ao contrário, ele temia que elas fossem usadas por outros.
Os Irmãos Nolan negaram qualquer relação com o Ocupy Wall Street porque o roteiro do filme estava pronto antes do movimento entrar em vigor.
Bane incansavelmente repete que é o herdeiro de Ra’s Al Ghul. Quem assistiu Batman Begins sabe que se a Liga das Sombras fosse um partido político seria de extrema direita, afinal o que eles querem é varrer todas as civilizações corruptas do mapa – com todas as pessoas dentro – e começar do zero de novo. Já Bane é uma crítica ao populismo e nem é novidade isso que os Nolan fizeram. Por exemplo, outros irmãos cineastas, os Irmãos Coen, usaram idéia semelhante no filme E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? onde o pesudo reformista político Homer Stokes, vivido por Wayne Duvall, critica o seu adversário conservador para se revela no fim do longa um líder da Ku Klux Klan. A diferença é que o Bane, ainda que não tenha apelo cômico, é um personagem mais multifacetado.



“Eu Falei que era Imortal”
  Recuperando-se dolorosamente para tentar fugir do poço, Bruce tem um sonho com seu mestre/inimigo Ra’s Al Ghul… ou seria o espírito do vilão que assombrava a prisão onde a mulher que ele amava morreu barbaramente em seu lugar? Em mais um momento profundamente ambíguo em meio ao delírio do herói, Ra’s atua como consciência jogando na cara de Bruce que com todo o sacrifício que ele fez pelo povo de Gotham só conseguiu conquistar uma mentira. Existem vários tipos de imortalidade e na minha opinião o legado deixado por Ra’s al Ghul aliado a sutileza da interpretação de Liam Neeson terminou se igualando a demência anárquica representada por Heath Ledger e fazendo de Ra’s o maior vilão da trilogia ao lado do Coringa.



A Morte da Guarda Nacional
  A Guarda Nacional se infiltra em Gotham com o caminhão de suprimentos enviado a cidade. Porém, antes que pudessem fazer qualquer coisa com relação a bomba são traídos por Miranda/Talia. Detalhe pra praticidade e frieza de Bane matando o líder deles somente ajoelhando na garganta do cara. Enforcados em rede nacional pra servirem de exemplo motivam mais uma tentativa frustrada de fuga de Bruce Wayne do poço.
“Eu não estou com medo. Eu estou com raiva!”



Deshi Basara
  Um das mais emocionantes cenas da trilogia e uma das melhores já filmadas por Christopher Nolan. A não ser que você desligue o cérebro não tem como não fazer uma associação entre a ascenção de Bruce e sua queda no poço dos morcegos na primeira cena do primeiro filme, especialmente pelo sonho com seu pai e por seu diálogo com o prisioneiro cego “Eu tenho medo sim. Eu tenho medo de morrer aqui enquanto a minha cidade queima.” Acho que em nenhum outro momento as pessoas torceram tanto pelo Christian Bale quanto nessa hora (inclusive esse é o ponto alto da interpretação dele na trilogia tamanha sua entrega) e boa parte do mérito é da trilha climática composta por Hans Zimmer. Após a fuga o atormentado personagem Bruce Wayne fará finalmente a viagem de volta que começou lááá atrás quando queimou seu dinheiro e documentos e foi correr o mundo com a roupa do corpo e o casaco de um mendigo em Batman Begins. Infelizmente a legenda e a dublagem em português transformaram a clássica frase da HQ feita pela dupla Denny O’Neal/Neil Adams de “Por Que Caímos?” em “Por que Fracassamos?”


Povo Dividido, Bandeira Rasgada

  Uma das falas mais fortes (e engraçadas) do filme acontece quando Gordon, seguido por Blake e Miranda/Talia vai a casa de Foley cobrar a ajuda do colega na Terra de Ninguém que virou Gotham “Foley! A cidade está sitiada e você manda a sua mulher atender a porta?” No fim resta a “ajuda” voluntária de Miranda/Tália que mais uma vez arruina os planos dos rebeldes de neutralizar a bomba. “O senhor está preso Comissário Gordon… em nome do povo de Gotham City.” Num gênero que ficou marcado por mostrar o Superman e o Homem-Aranha de peito estufado ao lado da bandeira dos EUA, Christopher Nolan quebrou paradigmas ao focalizar uma bandeira norte-americana rasgada balançando ao vento.



O Tribunal do Espantalho

Dr. Jonathan Crane, o Espantalho, foi muito importante no enredo do primeiro longa metragem, mas frustrou alguns fãs com uma participação mínima no segundo. No terceiro ele volta a fazer apenas uma participação, porém muito especial, aonde vestido com terno de palha de Espantalho tornou-se o juiz que conduz a lei e a ordem na Gotham da Liga das Sombras. Aliás, poucas coisas emularam tão bem o Batman dos quadrinhos no Cinema do que ver um louco julgando quem morre e quem vai pro “exílio”. Obviamente, não há escolha, o que rende o memorável diálogo com Gordon
“Morte ou Exílio?”
“Crane, você está maluco se pensa que vamos andar sobre o gelo de boa vontade.”
“Hum… Morte então?”
“Acho que sim.”
“Então a sentença é morte… por exílio.”




Bruce Reencontra Selina
  Cerca de 20 dias depois de sair do poço Bruce chega a Gotham na véspera da explosão da bomba – provavelmente pelo caminhão de suprimentos ou pela ferrovia subterrânea mostrada em Begins – e surpreende Selina salvando um menino. Perdoando a ladra (ou perdoando a si mesmo?) ele entrega o Programa Ficha Limpa em troca de ajuda para chegar a Lucius e assim ter acesso aos recursos do seu “amigo poderoso”. Nolan acerta ao repetir a situação do início de TDKR invertendo o papel que Bruce tinha com Alfred para mostrar seu amadurecimento. De alguém que necessita de uma segunda chance pra recomeçar ele passa a ser aquele que oferece essa segunda chance.



The Fire Rises
 
  Com ajuda da Mulher-Gato e de Lucius Fox Batman salva Gordon da “morte por exílio” e acende o BatSinal de Fogo para avisar aliados (Foley) e inimigos (Bane) que retornara em grande estilo. Logo depois voa com a nave para salvar Blake e libertar os policiais presos desde a explosão do estádio. Impagável o até então desenganado Blake avisando Batman pra dar um chute de um dos capangas que não tinham desmaiado. Aqui Nolan faz Batman dizer ao policial uma frase que não só indicará o futuro de Blake, como também logo se revelará perfeitamente aplicável ao passado secreto de Bane
“A máscara não é pra você. É pra proteger as pessoas que você ama.”



Guerra
 
  Mais uma referência nítida a Revolução Francesa na bela cena da coluna de policiais avançando contra a Liga das Sombras na prefeitura, enquanto são protegidos dos tiros dos Tumblers pelo The Bat. Nolan deixa visualmente claro que não existe nenhum civil ali, apenas policiais e mercenários, afinal aquela nunca foi uma revolução popular. A opção do diretor de destacar o confronto entre Bane e Batman no meio daquela multidão ressalta o sentido de coletividade pregado desde o dia em que Ra’s achou Bruce numa cela. Assim como Bane afirmou anteriormente “Eu sou a Liga das Sombras”, Batman é Gotham City… e é o momento em que o herói acha o ponto fraco na máscara do vilão e o atira através da porta de vidro que define o destino daquela batalha.



Blake na Ponte
  Um dos pontos altos do longa é a tentativa desesperada de John Blake de evacuar crianças órfãs de Gotham pela única ponte restante antes que a bomba exploda. É uma cena fantástica não só pela grande interpretação de Joseph Gordon-Levitt, mas mais uma vez pela ambiguidade que Nolan imprime a situação: você sabe que Blake está certo, mas não consegue culpar (pelo menos eu não consegui) os soldados que explodem a ponte condenando as crianças porque não tem certeza se não faria o mesmo se estivesse no lugar deles.



A Máscara de Talia
 
  É irresistível chamar Christopher Nolan de gênio. Se no primeiro filme o herói salva a mocinha do vilão e no segundo o herói NÃO salva a mocinha do vilão… neste terceiro A MOCINHA É O VILÃO! Não contente em quebrar mais um dos paradigmas mais famosos dos filmes de super-herói, o diretor amarra bem toda a ligação do passado trágico de Bane e Talia com Batman mostrando que o vilão poderia ter sido um herói tão altruísta quanto o Cavaleiro das Trevas. Já dizia Harvey Dent “Ou você morre herói, ou vive o bastante pra ver você mesmo virar o vilão.” E quando personagem Talia/Miranda na hora da revelação afirma que também era uma cidadã, cai por terra assim qualquer hipótese de TDKR ser meramente uma crítica conservadora ao anseio popular, já que numa reviravolta de 360 graus Bane no fim das contas realmente trabalhava para um milionário da cidade, Miranda em vez de Daggett, e foi ela a cabeça da “revolução social”, pois sempre esteve com o dedo no detonador. Miranda/Talia/Bane. Bruce Wayne playboy/Bruce Wayne Órfão/Batman. Mais uma vez o legado de Ra’s Al Ghul se faz presente – com Talia modificando seu visual Rachel e assumindo seu verdadeiro Eu – elevando sua importância na trilogia como o cara responsável por TODOS os personagens freak de Gotham. Afinal, Ra’s é o pai de Talia, treinou Bane, financiou os experimentos do Espantalho e treinou Batman que inspirou a Mulher-Gato e o Coringa, que por sua vez inspirou o Duas-Caras. Em outras palavras, Ra’s Al Ghul é o cara!



Batman Escapa dos Mísseis
  Apesar de sabiamente evitar usar CGI, Nolan demonstra que quando a opotunidade pede ele sabe empregar bem os efeitos de computador na hora em que Batman foge dos misseis de Talia comprovando as palavras de Lucius sobre as manobras da nave entre prédios numa grande cena. E se tem uma coisa que não se pode criticar o cineasta na trilogia é que nenhuma cena de ação foi gratuita ou somente pra agradar a galera. Como manda a cartilha do bom roteiro todas elas sempre tinham algo a dizer sobre os personagens ou ajudavam no andamento do enredo.



Um Último Beijo Antes de Morrer
  Como Talia antes de morrer inutilizou qualquer forma de parar a detonação da bomba atômica e aparentamente não havia piloto automático Selina decide se despedir de Bruce com um beijo acreditando que não o verá nunca mais. Bom, tirando o fato de que ele trollou ela (e todo mundo) com a história do piloto automático e seguindo as idéias junguianas lançadas desde o primeiro longa, se o Coringa é A Sombra do Batman, Selina e Bruce são respectivamente Anima e Animus, partes de um mesmo todo que se completa. Você sente isso desde quando ele vai até ela pegar o colar de Martha:
“Esse colar fica melhor no seu pescoço do que no cofre.”



“Um Homem Comum Pondo um Casaco num Garoto”
  Ainda que todas as cenas do Alfred sejam emocionantes foi aqui que eu me emocionei pra valer, vendo Batman revelar sua identidade secreta pra Gordon de forma abstrata – versão em larga escala da revelação a Rachel em Batman Begins – numa alusão ao primeiro encontro entre eles na noite em que os pais do herói morreram… e para quem recorda desse momento sem necessidade do flashback é que essa hora realmente pega pra valer. Também tiro o chapéu pro Nolan porque mesmo quem não concorda com as decisões que ele tomou com o Batman e seu universo, tem que admitir que o diretor nunca foi incoerente. Batman jamais disse “Eu sou Bruce Wayne” e Bruce Wayne nunca falou “Eu sou Batman.” respeitando inclusive a interpretação de Christian Bale para Bruce/Batman, como a escolha acertada de fazer uma voz diferente para cada um.



Alfred Pede Desculpas a Thomas
  Após Batman levar a bomba pra longe no horizonte sob o olhar dos órfãos e de Blake, que joga fora seu distintivo ao ver o sacrifício do amigo (alguém ainda acha que o Nolan quis contar a história de um herói que poderia ser um policial?), Gordon lê as últimas linhas do romance Um Conto de Duas Cidades no modesto funeral de Bruce Wayne. Enquanto o Comissário, Lucius e Blake saem de cena Nolan filma Alfred dando um passo para o lado e, frente a frente ao túmulo de seu ex patrão, pedir desculpas a Thomas Wayne por não ter ficado e protegido seu filho. Michael Caine está devastador nessa cena. Mas é no trecho do livro que Gordon leu que está dado o recado de maneira sutil: esse não é o final.



Batman Está Morto. Longa Vida a Bruce Wayne.
 
  A melhor sequência da Trilogia inteira. Quando parecia que Nolan optou pelo final clichê estilo novelão do protagonista que se sacrifica heroicamente pela humanidade sob o olhar lânguido de criancinhas inocentes, velhinhos em prantos e com estátuas sendo construídas em honra a sua virtude, o cineasta tira um Grande Truque da manga. Tá certo que também não é o final mais original do mundo, mas é repleto de significado. Todo mundo volta e meia se pergunta porque Bruce Wayne não largava a luta de combate ao crime e ia viver a vida, mas ninguém nunca teve coragem de mostrar isso, não desse jeito, com tamanha autentiticidade. Segundo David Goyer esse final – “um suicídio comercial” - foi escrito desde que terminaram TDK. Batman se sacrifica por Bruce. O Super-Herói salvou o garoto órfão. Mas Batman não é um homem, é um mito. Batman é Gotham City e permanecerá imortal enquanto a cidade viver. O legado de Bruce e seus pais continua com os órfãos de Gotham vivendo na Mansão Wayne e o legado Batman continua com John Blake. Mas mais do que isso, no fim da trilogia Nolan mostrou que  O Cavaleiro das Trevas realizou o maior de todos os atos heróicos de um super-herói dos quadrinhos na tela do cinema: Batman salvou Bruce Wayne.


0,5 – A Morte de Foley
 
  E tá aí na posição meia boca o que todo mundo queria ver – inclusive o Matthew Modine – e o Nolan cortou na sala de edição: o instante em que Foley morre atropelado pelo tumbler da Talia perseguindo o caminhão da bomba com o Gordon. BWAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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