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Arte: NapoliThanos |
Na sala do trono da Basílica, três dos
Pretores aguardavam. Um era o felino trabalhador. Outro, com ar juvenil, já
fora velho. O terceiro, é aquele que trazia as mazelas.
Celso era guiado lá por um novo adendo
aos basílicos, um alienígena de porte poderoso, roupas douradas e pele com três
cores diferentes... O Vermelho da Paixão, o Branco da
paz, e o Marrom do Chocolate.
- Não tem um coffe Break ou
algo assim? - pergunta o Símio. - Cruzei o Amazonas às quatro da manhã e entrei
na fenda do Lundgreen nem proteção. Um café ou um todinho cairia bem agora.
- Você sumiu por semanas, Celso. -
Repreende o felino. - Pensamos que você foi uma das vítimas...
- Vítimas de quê? - pergunta o primata.
Estava longe ha muito tempo.
- Quando se afiliou à Basílica,
você adquiriu obrigações.- O Desgraça inferiu. - Seu desempenho dos Jogos ...
Simplesmente sair sozinho em território hostil... Tudo isso nos faz questionar
sua dedicação...
- É minha natureza... - Celso encontra
um envelope de chicletes que havia esquecido nos bolsos de seu sobretudo
marrom. Teria de ser seu café da Manhã. -Quanto a meu paradeiro... Eu estava
em Beagá.
- C... Como?!? - o ex-velho chega a se
levantar.
- Relaxa... Eu sou espião... - Celso
começa a mascar um pedaço da goma. - Eles jamais me achariam. E eles nos
agrediram primeiro. Fui lá ver se podia trazer informações, manipular eleições,
construir um muro...
- Não deveria tomar essas iniciativas,
macaco. - Business não estava exaltado como os outros dois. Talvez planejasse
algo assim oficial da Basílica, ou pelo menos entendesse toda a mágoa da última
vez que as duas potências se chocaram. - Mas se virou a noite voltando, deve
trazer notícias importantes da capital mineira à beira do mar.
Celso põe na boca outra goma para
reforçar o gosto da primeira, e pondera como ia contar a história.
- Devo dizer... - Começa a narrativa. -
Por algum tempo as palavras da Prefeita me incomodaram. Uma
capital povoada só por nossas vítimas... Mas o fato é que a natureza é sábia.
Presas e predadores vivem em equilíbrio. Muitos dos bundas-sujas subiram na
vida ao abandonar o ambiente da lamentabilidade... Agora, sem a gente para
mantê-los na linha, Beagá "virou Brasil".
"O mal, a corrupção e a burrice toma conta da cidade. Roubos,
fraudes, fome, tráfico, e até votam no Aécio. Eu aluguei um quarto-e-sala num
beco e saia à noite para constatar tudo isso o que acontecia por mim mesmo. Muanha
conclusão: A cidade não poderia prosperar em ambiente tão tóxico.
Mas quando estava perdendo esperanças, comecei a ouvir boatos entre os
miseráveis. Boatos sobre uma sombra de justiça à noite... Um enorme roedor
sombrio que ia onde a nequícia abunda e os bundas-sujas sentem a pungência da
malevolência..."
- Um ... Roedor?!? - interrompe o gato,
com olhos arregalados. - Tipo ... Um rato gigante?
- ..Mais para Hydrochoerinae.
- comenta Celso.
- Uma ... Capivara. - Desgraça traduz.
- Não fique tão interessado, Busi...
- Dá para deixar o MACACO contar a
HISTÓRIA?- reclama o Ex.
Celso cospe o chiclete. Guarda o último
pedaço da embalagem para mais tarde. Precisaria de toda sua vocalidade para
focalizar no assunto.
"Mesmo não acreditando nos boatos, decidi investigar. Já estava lá
mesmo... Foi quando soube que um grande carregamento de piranhas do Rio São
Francisco se daria no porto. Decidi investigar. Cheguei a tempo para ver quem
encomendava o produto, os nerds dentuços que juntaram as economias de uma vida
inteira de programador para comer uma pepeca. Deviam ter, cada qual, quinze...
Talvez até vinte Golpinhos.
'Cadê as piranhas?' um mais animado falou. Os estivadores disseram 'O
Dinheiro primeiro'. Eles pagaram. Olharam ao redor, temendo que a polícia ou
seus pais estivessem por perto. Eu sou um mestre espião, jamais me veriam.
Enfim, eles entregaram. Os Estivadores começaram a ir embora.
'EI! Nós tínhamos um trato!' - reclamou outro nerd. 'Esse dinheiro não
dá para concluir a transação', retrucou o estivador, mas batendo o pé de forma
intimidante. Um dos Nerds, acredito eu desiludido, disse: 'então nos devolve
nosso dinheiro...' Os estivadores gargalharam. Um deles empurrou sem cerimônia
o frágil nerd, que caiu no chão como meia suja.
Creio que aí foi a gota d'água.
Uma pilha de caixas de madeira que tinha próxima, subitamente,
despencou. Dois dos estivadores foram soterrados, e o resto foi forçado a se
espalhar. Eu mal vi os movimentos, muito menos os vilões... Mas, no centro dos
bandidos, surgiu o vulto negro.
Ele tinha um porte poderoso, coberto em um traje tático negro tendendo à
púrpura. A ponta de seus dedos terminavam em garras espessas. Sua cabeça... Não
era humana! Projetava um largo focinho que podia ser envolvido por duas mãos.
Os vilões sabiam quem era. Eles ficaram paralisados por seis... Sete
segundos em terror. Mas eventualmente, talvez acreditando na vantagem dos
números, eles atacaram o justiceiro.
Mesmo com o tamanho de um lutador da MMA, a capivara se moveu com graça
e velocidade. Esquivou com facilidade as duas primeiras pauladas que lançaram
nele. A terceira, ele aparou pelo pulso do bandido e, com a pressão de uma mão,
o forçou a largar a arma.
Dois bandidos atacaram o herói por trás, mas ambos foram atingidos por
um único chute circular meio-coice... E voaram até os containers partidos.
Daí então a Capivara Negra tomou a iniciativa. Saltava no ar por
distâncias dignas de um slow-motion do Snyder, aterrissando no rosto de um
bandido. De lá, socos voavam e cada um atingia um malfeitor, tirando-o de
combate com facilidade.
O líder dos bandidos encontrou um gancho de guindaste pendurado numa
corrente de ferro. Enquanto seus mínions eram derrubados pelo herói, ele
apanhou o petardo, esticou sua corrente, e mirou. Quando o Capivara parou de se
mexer, ele lançou em badalo a traiçoeira peça contra o herói.
O gancho de ferro balançou em sua corrente, em trajetória de arco, mas
parou no ar, a centímetros do robusto roedor, e ficou parado no ar
num ângulo impossível.
- Telecinésia? Magnetismo? Campo de
força? - Arrisca o Ex-cara.
- Ou então ele tem o poder que faz dos
heróis lendas absolutas... – fala Desgraça, lembrando-se daqueles que
sobrevivem incólumes às intempéries que ele lançava no mundo.-O Poder do Protagonismo.
- Se eu puder terminar... – Celso
recupera a palavra.
“Enfim, todos os malfeitores estavam caídos no chão. O chefe dos
estivadores estava agora pendurado no gancho do guindaste. O Capivara Negra
aproxima-se do bandido inconsciente, pega de volta o dinheiro dos Nerds, e joga
o maço de notas de volta a eles, dizendo com uma voz grave e imponente:
- Tem promoção no Stream. Esquece esse papo de puta paga.
Palavras mais sábias que estas jamais foram ditas.
O herói se preparava para deixar o lugar, mas do nada, parou. Ele
farejou o ar, encarou cada beco escuro do porto, detendo seu olhar enfim no
beco que eu estava.
‘Impossível!’ – eu pensei. Como ele poderia me ver? Um espião envolto
nas trevas? Mas ele me viu, e correu na direção oposta.
Eu estava envolvido demais na aventura para esquecer. Abandonei meu
esconderijo e persegui o Vingador Carpincho. Eu saltava nos
telhados, pendurava nos postes e voava pelas ruas, e ainda assim, mal conseguia
acompanhar o vigilante. E eu pensei que esses merdas eram
noturnas.
Enfim, como eventualmente aconteceria, ele me despistou. Mergulhou num
igarapé e desapareceu. Com isso, eu voltei imediatamente à Basílica para
informar minha descoberta.”
- Igarapé? – O Gato de Negócios
estranha. – Tem igarapés em BH?!?
- Agora tem MAR em BH! – observa
Desgraça. – Nossas aulas de geografia estão defasadas.
- Esta... Capivara Negra... – pondera o
Ex-cara. – Seria ele aliado ou inimigo? Um salvador ou um perpetrador de outra
espécie de vilania?
- Napô – Desgraça chama a atenção do
alienígena tricolor. – Vá com Celso e faça um retrato falado desse Comedor
de capim combatente do crime.
- Depois do café! – resmunga Celso,
sendo escoltado pelo abrutalhado alienígena, que já tinha lápis e papel à mão.
O trio de Basílicos aguardou estarem
mesmo sozinhos.
- Vocês estão pensando o mesmo que eu?
– fala o Gato.
- Se alguma criatura assim existe... -
Desgraça coça o queixo. – Talvez tenha alguma chance...
- Muitos Lamentáveis perderam sua
vida... – Ex-cara fala com pesar. – Talvez o Capivara Negra seja a solução para
enfrentar... A Árvore!