sábado, 21 de abril de 2018

[CONTO] O Farendalf Azul

Imagem incorporada
Um cheiro de café acorda o Joahkiin.

Não era o café frio no chão de sua jaula... Era café fresco... Quente... Um aroma que tomava todo o ambiente, e não seu faro apurado buscando seu ópio do lado de fora da cela na torre da prefeitura de Beagá. Por isso, ele decide abrir os olhos.

Pensara cego por uma fração de segundos. Estava numa sala azul iluminada irregular como se fosse uma curva num corredor longínquo, e não mais na masmorra escura da prefeitura de Beagá. Com o tempo, sua visão se acostuma com a claridade. Estava no centro de uma sala circular, dentro de um pentagrama azul. Não havia grades... Não havia a prefeita... Havia apenas uma caneca de vidro transparente e seu conteúdo fumegante: café.

- Beba... – uma voz diz. O Farendalf acreditou que foi a sua própria, mas não era... Não importava. Era seu vício apresentado na forma mais límpida e pura. Lágrimas escorreram do Jão.

Ele hesita. O calor radiava da caneca de vidro até sua mão poucos centímetros. Mas enfim, sem cerimônia, ele apanha-a, não pela asa, mas pelo corpo.

O primeiro gole queima a língua. Era quente e doce. Seu paladar estava prejudicado, mas mesmo assim ele verteu suavemente aquele líquido. Terminou com uma golada satisfatória. Baixou a caneca, ergueu a fronte e permitiu-se respirar um ar límpido, sem o mofo e a umidade da cela.

- Está feito... – A mesma voz de antes falou. Jão não mais achava que era sua própria. Parecia no começo duas pessoas, mas logo, era uma voz límpida, mas ecoada como se fosse uma multidão.

O salão começou a ser iluminado de forma diferente... Uma luz azul bruxuleante alterava as tonalidades de azul. Farendalf fita as lâmpadas do teto... Não eram elas a fonte da perturbação da luz...

... Era seu próprio corpo!

- A Magia despertou. – fala a voz ecoada. – Joahkiin, mago da Ordem antiga, portador do título de Farendalf, sua herança está entregue.

- C... Como assim?!? – palavras coesas saem da boca do Jão pela primeira vez em seis meses.

- Você é um coração puro que sofreu uma grande injustiça. Os Deuses se identificaram com seu sofrimento, e decidiram te libertar. Estenda a sua mão.

Farendalf começa a erguer o braço.

- Não! – censura a/as voz/ses. - Ponha sua energia no movimento! Deixe que seu instinto guiar o poder ancestral!

Farendalf faz o movimento solicitado com vigor.  Percebe então uma energia azul correr como chamas e raios por seu corpo, detendo-se na mão, e erguendo uma forma circular imediatamente à sua frente.

- Este é seu BLOCK. – fala as vozes. – Com isto, ninguém mais poderá lhe fazer mal.

- Que legal! – Jão sorria tão forte que sentia doer seu maxilar. – E poderes ofensivos? Eu tenho?

As vozes silenciam alguns segundos, mas enfim começam.

- Esta é a magia verdadeira, Farendalf. Não a prestidigitação do basílico Mago. – havia um tom de repreender. – Sim, você tem poderes ofensivos, mas devem ser usados com cautela e sabedoria.

Farendalf imagina uma esfera daquela energia azulada e estende sua mão em arco. Uma onda daquele poder projeta-se vários metros além de seu corpo, atingindo a parede e se dispersando.A língua de Jão corre por sua boca.

- O que mais eu tenho?!? – a euforia estava tomando conta dele.

- Assim que sair deste bolsão dimensional, você poderá ... Voar...

Tudo fazia sentido na mente de Joahkiin. Ele começa a caminhar pelo salão curvo. Logo sente ar fresco, e vê numa lateral antes da última curva, um portal. A luz que saia de lá era inegavelmente a luz da lua. Não más numa janela distante no alto da masmorra, mas na porta.

Mas algo chama a atenção do mago. Um pequeno volume à sua frente.

- O que é isso, Vozes?

- Este é um boneco Vodoo de seu inimigo.

Com a explicação, a imagem passa a fazer sentido. Era uma forma inumana... Primata... Com runas verdes nas juntas. Era uma representação de chimpanzé. E aos seus pés, uma adaga de lâmina curta.

- E é para fazer o que? – pergunta o poderoso mago azul.

- Deve ignora-lo. – falam as vozes. – Estamos confiando a você grandes poderes para proteger os fracos e inocentes do mundo, não para seu orgulho. O artefato à sua frente funciona. Todo o mal feito ao receptáculo será sentido pelo alvo. Mas se o fizer, não lhe devolveremos a sua liberdade, e lhe tomaremos seus poderes. Pense bem sobre suas ações...

Jão saliva pensando em ter sua vingança imediatamente. Mas isso lhe privaria de poderes. A escolha era óbvia! Deveria ser um bastião de bondade. Para o Bem vencer, ele precisaria ignorar seus sentimentos mesquinhos e se elevar como um campeão da justiça.
Ele passa pelo boneco, e sente sua aura ampliar. Seu poder crepitar de forma que não pensava ser possível. A um passo da saída, sentia-se um deus.

Então, ele hesita. Por três... Cinco segundos...

... Dá um berro inumano...

E vira-se de costas para a entrada.

Ele salta sobre o artefato como um tigre à sua presa. Com destreza, ele agarra o cabo do punhal, e começa a apunhalar freneticamente o boneco. O primeiro foi no coração, o segundo no cérebro... Incontáveis outros alternavam entre a virilha e o cu.

A luz diminui de repente. Uma porta de madeira surge na passagem fechando-a... O Arrependimento brota em Joahkiin deixando suas mãos trêmulas.

- Que pena... – fala uma Vaz vozes que ele ouvia. Não mais parte de uma multidão, mas uma voz singular ligeiramente sobre efeito de eco. Uma voz feminina. – Queria muito que você tivesse atravessado a porta e visto que era sua cela.

- Cela?

A Prefeita de Beagá aparece. Estende a mão para tocar o rosto de Farendalf. Traumatizado, o mago faz o gesto e conjura seu “Block”. A mão da Bruna atravessa o petardo como um fantasma e alisa a bochecha de jaó, que salta para traz dois metros.

- Não existe Block. - fala outra voz. Jão reconhece como uma das que falavam com ele, mas era masculina desta vez, embora aguda. – Você teve uma dose de café que seu corpo não estava acostumado após meses de confinamento. Você estava alucinando o tempo todo, e nós íamos moldando o que você via.

 Com a revelação Farendalf percebe que as supostas luzes eram um produto de sua mente. Quanto mais entendia o que eram, menor críveis seus “poderes” pareciam. Jão estava em choque, contudo, pode sentir algo pastoso em suas mãos... O que fizera. Sem a ilusão, percebe que o macaco Vodoo que via em sua mente era um macaquinho de pelúcia. E ele “apunhalara” o coitado com uma banana madura a ponto de se tornar creme.

Dois guardas da milícia de Beagá surgem da mesma esquina em que Bruna se escondeu e caminham na direção de Joahkiin. – Devolva-o à cela. – fala a prefeita. – E corte sua ração. Ele tomou café por uma semana inteira agora a pouco.

Jão tenta lançar seus raios, mas nem mesmo ele acreditava mais nos delírios. Ergue a mão para novo Block, mas nem enxergava o escudo arcano. Os bandidos o agarram sem cerimônia e o arrastam. O macaquinho e a banana caem no chão quase aos pés de Bruna. Passam pelo outro que a ajudou neste cruel trote, e em pouco tempo, Farendalf voltaria à cela em que os basílicos o deixaram.

- A dose extra de cafeína não faria tudo isso sozinha. – confirma Bruna.- Foi você, não? Você quem tornou a prisão de Joahkiin ainda mais penosa por dar este breve instante de poder, liberdade e vingança?

O acompanhante sorri com orgulho de seu feito mesquinho e abruma sua túnica.

- Resuma isso tudo que Farendalf percebeu como “Esperança”. – fala enfim. – Quando Pandora abriu a caixa e espalhou as mazelas pelo mundo, ela tentou fechar novamente, aprisionando a Esperança nela. Por que você acha que a Esperança estava na caixa das mazelas do mundo? Ela é um mal também. Pela Esperança os Basílicos tentam prosperar neste mundo destruído. Pela Esperança eles acreditam uns nos outros... E em seus líderes.

- Então esta é sua origem? – bruna ri com malícia. – É da Caixa de Pandora que você nasceu,Basílico Desgraça?

O pretor sorrir com maldade. Ele acena positivamente. Sabia que deveria ter vergonha por ser um traidor corrupto da Basílica, um judas que estava traindo seus integrantes e torturando-os com seu poder. Mas era isso que o fazia ser o Desgraça.

domingo, 15 de abril de 2018

[CONTO] Capivara Negra - Beguins



Arte: NapoliThanos
 Na sala do trono da Basílica, três dos Pretores aguardavam. Um era o felino trabalhador. Outro, com ar juvenil, já fora velho. O terceiro, é aquele que trazia as mazelas.
Celso era guiado lá por um novo adendo aos basílicos, um alienígena de porte poderoso, roupas douradas e pele com três cores diferentes... O Vermelho da Paixão, o Branco da paz, e o Marrom do Chocolate.

- Não tem um coffe Break ou algo assim? - pergunta o Símio. - Cruzei o Amazonas às quatro da manhã e entrei na fenda do Lundgreen nem proteção. Um café ou um todinho cairia bem agora.

- Você sumiu por semanas, Celso. - Repreende o felino. - Pensamos que você foi uma das vítimas...

- Vítimas de quê? - pergunta o primata. Estava longe ha muito tempo.

- Quando se afiliou à Basílica, você adquiriu obrigações.- O Desgraça inferiu. - Seu desempenho dos Jogos ... Simplesmente sair sozinho em território hostil... Tudo isso nos faz questionar sua dedicação...

- É minha natureza... - Celso encontra um envelope de chicletes que havia esquecido nos bolsos de seu sobretudo marrom. Teria de ser seu café da Manhã. -Quanto a meu paradeiro... Eu estava em Beagá.

- C... Como?!? - o ex-velho chega a se levantar.

- Relaxa... Eu sou espião... - Celso começa a mascar um pedaço da goma. - Eles jamais me achariam. E eles nos agrediram primeiro. Fui lá ver se podia trazer informações, manipular eleições, construir um muro...

- Não deveria tomar essas iniciativas, macaco. - Business não estava exaltado como os outros dois. Talvez planejasse algo assim oficial da Basílica, ou pelo menos entendesse toda a mágoa da última vez que as duas potências se chocaram. - Mas se virou a noite voltando, deve trazer notícias importantes da capital mineira à beira do mar.

Celso põe na boca outra goma para reforçar o gosto da primeira, e pondera como ia contar a história.

- Devo dizer... - Começa a narrativa. - Por algum tempo as palavras da Prefeita me incomodaram. Uma capital povoada só por nossas vítimas... Mas o fato é que a natureza é sábia. Presas e predadores vivem em equilíbrio. Muitos dos bundas-sujas subiram na vida ao abandonar o ambiente da lamentabilidade... Agora, sem a gente para mantê-los na linha, Beagá "virou Brasil".

"O mal, a corrupção e a burrice toma conta da cidade. Roubos, fraudes, fome, tráfico, e até votam no Aécio. Eu aluguei um quarto-e-sala num beco e saia à noite para constatar tudo isso o que acontecia por mim mesmo. Muanha conclusão: A cidade não poderia prosperar em ambiente tão tóxico.

Mas quando estava perdendo esperanças, comecei a ouvir boatos entre os miseráveis. Boatos sobre uma sombra de justiça à noite... Um enorme roedor sombrio que ia onde a nequícia abunda e os bundas-sujas sentem a pungência da malevolência..."

- Um ... Roedor?!? - interrompe o gato, com olhos arregalados. - Tipo ... Um rato gigante?

- ..Mais para Hydrochoerinae. - comenta Celso.

- Uma ... Capivara. - Desgraça traduz. - Não fique tão interessado, Busi...

- Dá para deixar o MACACO contar a HISTÓRIA?- reclama o Ex.

Celso cospe o chiclete. Guarda o último pedaço da embalagem para mais tarde. Precisaria de toda sua vocalidade para focalizar no assunto.

"Mesmo não acreditando nos boatos, decidi investigar. Já estava lá mesmo... Foi quando soube que um grande carregamento de piranhas do Rio São Francisco se daria no porto. Decidi investigar. Cheguei a tempo para ver quem encomendava o produto, os nerds dentuços que juntaram as economias de uma vida inteira de programador para comer uma pepeca. Deviam ter, cada qual, quinze... Talvez até vinte Golpinhos.

'Cadê as piranhas?' um mais animado falou. Os estivadores disseram 'O Dinheiro primeiro'. Eles pagaram. Olharam ao redor, temendo que a polícia ou seus pais estivessem por perto. Eu sou um mestre espião, jamais me veriam. Enfim, eles entregaram. Os Estivadores começaram a ir embora.

'EI! Nós tínhamos um trato!' - reclamou outro nerd. 'Esse dinheiro não dá para concluir a transação', retrucou o estivador, mas batendo o pé de forma intimidante. Um dos Nerds, acredito eu desiludido, disse: 'então nos devolve nosso dinheiro...' Os estivadores gargalharam. Um deles empurrou sem cerimônia o frágil nerd, que caiu no chão como meia suja.

Creio que  foi a gota d'água.

Uma pilha de caixas de madeira que tinha próxima, subitamente, despencou. Dois dos estivadores foram soterrados, e o resto foi forçado a se espalhar. Eu mal vi os movimentos, muito menos os vilões... Mas, no centro dos bandidos, surgiu o vulto negro.

Ele tinha um porte poderoso, coberto em um traje tático negro tendendo à púrpura. A ponta de seus dedos terminavam em garras espessas. Sua cabeça... Não era humana! Projetava um largo focinho que podia ser envolvido por duas mãos.

Os vilões sabiam quem era. Eles ficaram paralisados por seis... Sete segundos em terror. Mas eventualmente, talvez acreditando na vantagem dos números, eles atacaram o justiceiro.

Mesmo com o tamanho de um lutador da MMA, a capivara se moveu com graça e velocidade. Esquivou com facilidade as duas primeiras pauladas que lançaram nele. A terceira, ele aparou pelo pulso do bandido e, com a pressão de uma mão, o forçou a largar a arma.

Dois bandidos atacaram o herói por trás, mas ambos foram atingidos por um único chute circular meio-coice... E voaram até os containers partidos.

Daí então a Capivara Negra tomou a iniciativa. Saltava no ar por distâncias dignas de um slow-motion do Snyder, aterrissando no rosto de um bandido. De lá, socos voavam e cada um atingia um malfeitor, tirando-o de combate com facilidade.

O líder dos bandidos encontrou um gancho de guindaste pendurado numa corrente de ferro. Enquanto seus mínions eram derrubados pelo herói, ele apanhou o petardo, esticou sua corrente, e mirou. Quando o Capivara parou de se mexer, ele lançou em badalo a traiçoeira peça contra o herói.

O gancho de ferro balançou em sua corrente, em trajetória de arco, mas parou no ar, a centímetros do robusto roedor, e ficou parado no ar num ângulo impossível.

- Telecinésia? Magnetismo? Campo de força? - Arrisca o Ex-cara.

- Ou então ele tem o poder que faz dos heróis lendas absolutas... – fala Desgraça, lembrando-se daqueles que sobrevivem incólumes às intempéries que ele lançava no mundo.-O Poder do Protagonismo.

- Se eu puder terminar... – Celso recupera a palavra.

“Enfim, todos os malfeitores estavam caídos no chão. O chefe dos estivadores estava agora pendurado no gancho do guindaste. O Capivara Negra aproxima-se do bandido inconsciente, pega de volta o dinheiro dos Nerds, e joga o maço de notas de volta a eles, dizendo com uma voz grave e imponente:

- Tem promoção no Stream. Esquece esse papo de puta paga.

Palavras mais sábias que estas jamais foram ditas.

O herói se preparava para deixar o lugar, mas do nada, parou. Ele farejou o ar, encarou cada beco escuro do porto, detendo seu olhar enfim no beco que eu estava.

‘Impossível!’ – eu pensei. Como ele poderia me ver? Um espião envolto nas trevas? Mas ele me viu, e correu na direção oposta.

Eu estava envolvido demais na aventura para esquecer. Abandonei meu esconderijo e persegui o Vingador Carpincho.  Eu saltava nos telhados, pendurava nos postes e voava pelas ruas, e ainda assim, mal conseguia acompanhar o vigilante. E eu pensei que esses merdas eram noturnas.

Enfim, como eventualmente aconteceria, ele me despistou. Mergulhou num igarapé e desapareceu. Com isso, eu voltei imediatamente à Basílica para informar minha descoberta.”

- Igarapé? – O Gato de Negócios estranha. – Tem igarapés em BH?!?

- Agora tem MAR em BH! – observa Desgraça. – Nossas aulas de geografia estão defasadas.

- Esta... Capivara Negra... – pondera o Ex-cara. – Seria ele aliado ou inimigo? Um salvador ou um perpetrador de outra espécie de vilania?

- Napô – Desgraça chama a atenção do alienígena tricolor. – Vá com Celso e faça um retrato falado desse Comedor de capim combatente do crime.

- Depois do café! – resmunga Celso, sendo escoltado pelo abrutalhado alienígena, que já tinha lápis e papel à mão.

O trio de Basílicos aguardou estarem mesmo sozinhos.

- Vocês estão pensando o mesmo que eu? – fala o Gato.

- Se alguma criatura assim existe... - Desgraça coça o queixo. – Talvez tenha alguma chance...

- Muitos Lamentáveis perderam sua vida... – Ex-cara fala com pesar. – Talvez o Capivara Negra seja a solução para enfrentar... A Árvore!


domingo, 5 de novembro de 2017

[Você Decelso] Senta na Piroga dele!



 [Fagundão] Encerraram-se as votações. Vejamos como vocês escolheram. 81818 pessoas votaram em “Sim”, contra 18104 que votaram em “Não”. Para ser sincero, nem lembro mais o que é o que. Mas vamos ver o final da história que VOCÊ escolheu!

Episódio 2: Senta na Piroga dele!

O Gato, a Glicose e o Infortúnio se entreolhavam. Precisavam decidir logo, senão, qualquer que fosse a decisão, seria inócua. Tanto refugiar-se na fortaleza quanto se preparar para a luta demoraria tanto quanto você procurar “inócua” no dicionário.
 - Todos os que poderem lutar... Para a batalha!
 - BATAAAAALHAAA!!! – urrou o Mago, puxando atrás de si todo um batalhão. Após tanto sofrimento, a batalha se torna uma causa comum, e os Lamentáveis, cansados de serem escorraçados, inflçam seus egos e partem para o choque das forças.
 Johan, o Naroto, preferia se esconder, e se ele o fizesse, sabia que seus compadres seguidores da filosofia oriental o seguiriam. Mas não deveria ir contra os ditames. Ele parte em carreira na direção dos bunda-sujas.

 Agora com distância, percebiam que todos eram de aparência jovem, usando camisetas sem estampas de cores quentes e nenhuma calça. Seus pintos eram minúsculos, e um rastro de bosta ficava atrás deles.  Eles não pareciam ter foco, era uma legião enlouquecida a avançar, pisotear e sujar tudo pelo caminho.

 Findman é o primeiro a alcançar a armada, e é derrubado dos céus. Mas uma onda de onças conjuradas por Corujinha o livram.  De tempos em tempos, os bunda-sujas se afunilavam nas proximidades de alguma das Fakes estarem, e nessa ocasião um lamentável mais gordinho esmagava vários de uma vez. O Inséto ancião era um verdadeiro blindado passando sobre eles, Enquanto o Avatar do Colossal Traseiro sentava em meia dizia a cada bater de coração.

 O Clã de Corguis via-se em apuros. Nem mesmo os bundas-sujas pareciam temer seus latidos agudos e sua postura pouco-intimidante. Estavam a ser pisoteados quando ouviram, do alto da colina, Celso gritar:
 - Vão precisar de um cão maior!
 E enfim, empurra o carrinho vermelho, com o Cão Levado que ele e o Gato tinham caçado. O carro vira sobre os bunda-sujas e liberta a fera, que passa a mordê-los indiscriminadamente.
 Mas com as horas, o grupo cansava. Polvo-aranha quase foi estuprado, mas para sua sorte nem os bunda-sujas o achava legal o suficiente para isso. Uma literal parede de não-comentaristas mortos se erguia, e mais e mais surgiam do outro lado e por cima. Os lamentáveis, mesmo mais fortes e melhor treinados, cediam metro a metro...
... Até que uma saraivada de balas, em efeito mangueira, traça uma reta entre as duas forças, pausando o conflito.
 Contra o sol nascente, a silhueta de um cowboy era vista. A fumaça de um cigarro confundia-se com as nuvens, e esta, com o cano de sua arma incandescente. O Xerife Supremo havia chegado.
 - Pensa bem, seus bun-de-fora... – fala ele com sotaque carregado. – Eu não uso coldre... Então, onde eu guardo o meu revolver?

 Os bunda-sujas encaram a figura. Um deles tinha tomado um tiro no pé, e além do buraco jorrando sangue, brotoejas e herpes surgiam. Cada bala daquele homem da lei, uma <I>placa de petri </i>com DSTs ainda não descobertas pelo Homem.

 Em horror, os bunda-sujas partem, rumo ao sul, deixando apenas os mortos para trás. Foi uma vitória! Era a grande vitória dos Lamentáveis, uma que eles ansiavam desde o Cataclisma. Mas nem todos estavam festivos.

 Celso pegou um dos bunda-sujas agonizantes pelos cabelos e o arrastou para onde pudesse analisar. Olhou primeiro eles por trás... Sem calças, com a bunda toda cagada. Teria defecado todo o conteúdo de seu organismo de forma explosiva para fazer tal estrago.
 Agora, girava para ver seu rosto. Os olhos com pupilas totalmente dilatadas não era o natural.
 - Drogas? – o Gato de Negócios se aproximava do símio. Entendera o que o macaco pensava. Vencer os peões era fácil... Vencer o chefe sim, seria uma vitória digna.
 - Alguma ideia? – pergunta Celso.
 - Algum analgésico...
 - Eles não lutariam com tanta energia com analgésico.
 - Estimulantes então. – fala o gato. – Psicótrópicos? LSD? Cafeína em doses cavalares?
 Celso abre a boca do Bunda-suja. Percebe os dentes totalmente amarelados.
 - Eu vou à Montanha dos Miseráveis. –fala enfim. – Vou chegar ao fundo dessa história.
 - Alto lá, delegado! – O Xerife detém o macaco. Àquela altura, o grupo estava nas imediações, interessado. – Acha que consegue descobrir quem foi que mandou esses bunda-sujas contra a gente?
 - Eu já descobri quem foi. – resmunga Celso. – Todos eles fizeram cocô e tomaram café ainda esta manhã!
 O batalhão queda-se em silêncio. Alguns por serem burros demais para entender. Outros por não acreditar naquela possibilidade.
 - O Jão?!? – exclama o pretor Infortunado. – Mas como ele teria recursos para tanta gente?
 - Ele tem mais dinheiro do que vocês acham. – Resmunga Celso. – Só o que ele gasta com a Bruna e os Trans que não come?
 - Você está errado! – fala a Glicose. Ela olha na direção do Memorial do Comentarista Banido. – Farendalf era tudo, menos um líder... ou esperto... ou planejador... ou coerente...
 - O que ela quer dizer... – fala a fada Nai, percebendo o loop infinito que seria enumerar as fraquesas daquele conhecido como Farendalf. – É que ele não teria competência para fazer isso.
 - Não falei que é a dedução perfeita. – O macaco dá com os ombros. – Mas vou investigar. Vou à montanha dos Miseráveis, que foi pelo menos o Ponto de Partida dos Bunda-sujas. E de lá, eu vejo.
 - Você vai sozinho? – o outro gato da confraria, com trajes alemães, estranha.
 - Meu cu à pica no dia que eu tiver receio por causa do Farendalf! – Celso exclama com orgulho. – Já lidei com esse merda antes.
 - Mas não é seu ... cú... que está em risco. – protesta Arnesto, somando-se ao xerife a barrar o macaco. – é o Nosso!
 - Cara... Nem todo mundo aqui sabe viver na vida selvagem. – Celso aponta para o Gato de Negócios. - Lembra nossa caçada no capítulo anterior?
 O Gato trabalhador olha para o cão Impertinente, que ele e o Celso caçaram e agora se uniu à resistência contra os Bunda-sujas. Realmente os Lamentáveis variavam em tamanho e talentos. Nem todos tinham os mesmos traquejos e habilidades. Mas sabia que Celso contava com talentos que seriam inúteis em outros cenários e circunstâncias, e era orgulhoso demais para reconhecer.
 - Senhores... – fala enfim, clamando a autoridade de Pretor da Basílica. – Sigam-me.
 Em uma fila, o grupo seguiu o Gato. Celso pensou que seria a melhor hora para partir sozinho para o sul, mas decidiu ver o que o Gato queria mostrar.
 - Sabe, a minha vida foi marcada por uma pergunta. – fala o Pretor, contornando a cúpula do Blocão, e se aproximando da Zona Proibida da Basílica. – Era um questionamento a mim comigo mesmo. Algo que definiria meu âmago... Algo que só eu poderia responder. Bem, há pouco tempo, a respondi...
 - Respondeu como? – Marky pergunta.
 - Eu Comprei um Barco.
 Virando a esquina da Basílica, dentre as trepadeiras e os pés de alface, uma longa embarcação do tipo Piroga aguardava. Possuía um leme, ganchos e remos. Era grande o suficiente para vinte pessoas... Ou sete pessoas gordas.
 - Podemos usar minha Piroga pelo corguinho, a favor da corrente. para chegar nas Montanhas. De lá, há dois rios que podemos navegar. Iremos mais rápido que escalando as encostas.
 - Mas é óbvio que o rio estará sendo vigiado! – protesta Celso. – Eu sou espião! Eu sei dessas coisas! Não tem como mandar um batedor sem... 
 - Eu posso ir na frente... – um dos lamentáveis se manifestava. Era um mutante horrendo chamado Lung-dren... Híbrido de golfinho com Celebridade esquecida. Arrastava com suas nadadeiras curtas pela areia. – A água é meu domínio.
 - Tem certeza que eu não posso ir sozinho? – reclama Celso. - Coloca uma terceira opção na...
 - Definitivamente. – Glicose afirma. – A gente poupou a basílica do ataque. Podemos agora com calma fazer um sítio adequado para nos proteger na ausência de vocês. A decisão agora é se vão entrar na piroga do Gato ou se vão só caminhando!

 [Fagundão] Situação difícil... O Grupo precisa revidar ao ataque, mas eles devem ir a pé ou sentar na piroga?
Se vocês acham que SIM Eles devem entrar na piroga, Votem SIM!
Se vocês acham que NÃO Não naveguem, Só Ca minha, Votem NÃO!

As votações estão abertas, e lembrem-se: O Final, você Decelso!

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

[Crônica] Celso na Basílica

O Bosque dos Bolados sempre foi meu lar, antes mesmo do cataclisma. Agora, preciso dividi-lo. Pois do Bosque dos Bolados e das Montanhas dos miseráveis eles tiraram pedras, paus e ferro para erguer a Basílica.
O mundo está diferente. O Sol ainda nasce ao leste e se põe a oeste. Mas hoje, ao invés de ascender ao zênite, ele ergue-se 1/5 do caminho, transcreve uma parábola para o norte e começa a cair, chegando ao horizonte no poente.
O mundo se tornou um eterno crepúsculo com esse "problema de cambagem" do mundo... e o Sul se tornou a terra onde o sol não bate.
Se eu fosse um homem melhor, eu teria participado das obras da Basílica. Diabos, se eu tivesse mais fibra estaria lá durante a batalha. Mas sou apenas um símio que cansou de sua vida natural. Que quis a liberdade, e teria de ser um bom vizinho agora.
Por sobre a copa das árvores a cúpula reluzente. Tinha alguns dias desde a minha última visita, mas agora parecia que, se não de todo pronto, o templo deveria estar apto a receber os refugiados. Decido enfim ir ao local da derradeira peregrinação. Salto sobre galhos e penduro-me em cipós, até que o descampado produzido pela extração de madeira me força ao solo, de onde caminho até a grande obra.
Vejo-me pisando em barro vermelho, ante uma vala por onde um caudaloso córrego passa. Não é muito volumoso. Mas as imperfeições da escavação o tornava um obstáculo para atravessar.
Colunas paralelas de granito desenhava um círculo ao redor de um obelisco... "O Monumento ao Comentarista Banido". Deveria haver algum simbolismo naquela obra de arte que introduz a construção, mas minha insensibilidade racional não a captava. Para mim, era uma pedra que os obreiros não tiveram disposição de retira-lo. E ficavam lá à sua sombra, domando café e fazendo cocô.
Alguém mais pensava isso. Ele usava robes monísticos, com a faixa vermelha no braço, dando a ele a distinção das lideranças daquele templo. Na faixa, um padrão em preto espelhando um velho símbolo do budismo. Era uma afronta às deidades que deram as costas aos formadores daquela irmandade.
- ONDE ESTÁ A PONTE! – Urro eu, tentando fazer minha voz superar as águas do córrego.
- O QUE?!? – O pretor, aparentemente, não ouvira.
- PONTE! – Insisto, e percebo que ele se aproximava, o que facilitaria a comunicação. – COMO EU ATRAVESSO?
- VOCÊ PULA!! – Fala ele com uma naturalidade que fez eu me sentir uma criança tola.
Olho para o córrego. Não era um desafio para alguém com minha saúde e agilidade, mas estava longe de ser convidativo. Talvez fosse alguma "provação religiosa", ou simbolismo como a pedra no meio do círculo.
Salto sobre o córrego. Estava agora no território da Basílica. O piso era de pedras polidas. Poderia se passar por azulejo, mas eu sabia melhor. Contorno o "Monumento" e finalmente vejo o prédio principal, um prédio quadrado mas esquinado por torreões, com janelas longínquas a partir do segundo piso, e embora estivesse assentada no lado oposto do prédio, a Cúpula do Blocão, que dava o ar templário ao prédio. Uma última peça oriunda do tempo em que havia zênite na passagem do sol.
- Então, é nisso que trabalhavam esse tempo todo? – Pergunto, puxando conversa.
- É um começo. – Fala o monge. – Era isso ou aceitar a desgraça sobre todos os nossos irmãos.
Após o círculo no monumento, ainda haviam colunas desenhando um caminho – agora mais direto – até os portões de carvalho da basílica. Entre suas colunas, buscando alguma sombra mais reconfortante, aqueles que ainda não aceitavam bem a Grande Perda. Eles liam os textos antigos, e as regras que guiaram tantos. Doze delas sagradas, uma profana... se muito não me engano.
- Vocês vão aceitar "Qualquer" um? – Minha pergunta era válida. Mesmo dentre aqueles nas sombras tinham desde quem provocou o cataclisma, quem apoiou o cataclisma, e mesmo quem nos venderia ás deidades por um mero pedaço de pano com o rosto bordado deles.
- Estamos ponderando ainda. Nada é definitivo. – Fala o pretor. – Estávamos nos afogando. Era nos agarrar ao que tivesse a nosso alcance ou aceitar a morte. Não vemos como possamos julgar uma ou outra ideologia. Creio que devamos ser tolerantes a todos.
- Todos não. – Eu falo sugerindo, mas soou como uma ordem, vejo agora. – Nunca aos intolerantes.
- Mas isso faria de nós os intolerantes, não?
- "O Ser e o Nada". Satre. – Cito. – A liberdade é uma limitação em si. A "total" liberdade é um paradoxo. Se "tolerar" quem não "tolera", estes ganham força, e logo destruiriam a tolerância. Deveria haver uma lei nos antigos tomos que previne que a busca pela bondade absoluta acabe com a obra.
- "O Amor não Constrói Nada". – Fala o pretor. Era justamente a primeira lei. Vi naquele momento que interpretei todo errado por muito tempo.
Os portões se abrem. O interior estava mais acabado que o exterior, embora faltassem os viveres. A poeira tinha sido varrida. Três sacristias estavam completas. Um pátio elevado imediatamente abaixo da Cúpula e entre nós e essas estruturas, mais um porão onde um cowboy esquisito carregava caixas profanas, o salão.
- Homens dos nove gêneros, capivaras e lagartos. E tantos mais quantos pedirem serão ouvidos aqui. – Informa o pretor. – Diariamente. Vai levar algum tempo, mas a normalidade deve retornar às vidas de...
- Creio que essa já era. – Falo com um pouco de revolta na voz. – A normalidade jamais voltará. A traição foi grande demais.
- Novamente... estávamos nos afogando. – Ele repetia a metáfora. – Vamos nos segurar em nossas vidas antigas. Nossa irmandade. Vamos rir uns dos outros. Brigar por mediocridades políticas. Paralelamente, vamos trabalhar nossa espiritualidade para que o que causou o cataclisma seja sanado. E se isso não der certo...
- Nos afogaremos? – Falo com ironia.
- Sim... e arrastaremos conosco o que pudermos agarrar.
Havia uma sobriedade na voz dele. Claro, estávamos limitados pela mortalidade. Mas saber que não iríamos calados ao fundo das águas foi decisivo ao me fazer dar uma chance à Basílica.