sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Uma crônica de dor e tempo

Eu quebrei minha caneca no dia de ontem. Por isso, ia precisar tomar café nos copinhos de plástico.  Sou atarefado, então, iria precisar do café e beber na minha mesa, dentro do cubículo, apelidosamente carinhado de "jaula".

Para acessar minha "jaula", preciso passar meu crachá na porta de segurança. Ele, com a tarja magnética já gasta, exige algum esforço e angulação para ser lida.

E lá venho eu, pontinha dos dedos pelando, com o café absurdamente quente  num recipiente nada isolante. Caminhando com cuidado, pois minha necessidade cafeística é superior aos 100 ml. lá armazenados, e me contentei com o máximo que pude auferir: quase transbordando.

Então, percebo, um colega sai da jaula onde nós, macacos, trabalhamos.

A porta está aberta. Fechando-se lentamente propulsionada pelas molas de um sistema de segurança.

Uma vez fechada, precisarei passar meu crachá outra vez, com todo o esforço, equilibrando a caneca pelas pontas do dedo enquanto agito a outra mão, num suplício agonizante...

.... Mas se eu vencesse os cinco metros entre eu e a porta, bastaria um jogo de corpo, e poderia alcançar minha mesa em menor tempo e menor agitação da bebida parcamente acondicionada.

Em uma situação normal, um par de passadas mais largas venceria a distância com folga. Mas com o copinho quase transbordando de líquido, movimentos bruscos não eram recomendáveis. Eu mal resistia o contato isolado pelo plástico, imagine o próprio líquido atingindo minha mão? Temia, por um impulso natural da queimadura, largar o copo e, pior que fazer outro, sofrer uma queimadura maior com o conteúdo despejando sobre meus pés, pernas ou mãos.

Apresso o passo cuidadosamente. Uma gota rebelde é ejetada da superfície e pousa em meu polegar. Ela teve algumas frações de segundo para esfriar, ainda assim a dor é tamanha que por pouco não solto o copo. Mas consegui encontrar concentração e tolerância. Serve de aviso para eu ser mais cauteloso.

A porta agora está prestes a colar as travas magnéticas. Algo entre 3 e 4 centímetros as separam.

Percebo que passos curtos mais rápidos eram seguros, mas nessa fração percebo que também me fazem parecer estranho para os expectadores externos. O dano social também me preocupa. Busco um equilíbrio entre passadas maiores e a corridinha curta, quase aquele esporte olímpico boiola.

Alcanço a porta no último instante. Juro que senti brevemente a atração magnética entre as duas peças da trava..., Mas um espaço de fio de cabelo permitiu que eu alcançasse a porta sem derramar o café.

   Triunfo.

Sento em minha estação de trabalho. Deixo o copinho no porta-copo, e permito o alívio do ar fresco do ar condicionado aliviar a dor na ponta dos meus dedos.

E então, considero...

Eu sou dramático demais! Foi só um cafezinho!

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